No dia 26 de junho,
o jornalista Alan Neto publicou, em sua coluna no Jornal O Povo, um
comentário desinformado, preconceituoso e ofensivo em relação às
doulas, tendo sugerido que elas deveriam deveriam “ir plantar
batatas”, expressão que nesse contexto desqualifica o trabalho
dessas profissionais, o qual o jornalista demonstra desconhecer, pois
na coluna também o compara ao ofício das parteiras tradicionais,
utilizando outra expressão que o desqualifica: “tucanaram a
parteira”.
O Ishtar Fortaleza
optou por publicar uma nota, rechaçando a atitude do jornalista e
pedindo sua retratação.
NOTA
Sr Alan Neto, é com
pesar que lhe enviamos essa nota, posto que acreditávamos que um
jornalista de tão esmerada jornada jamais se prestasse a tamanha
gafe. É preciso que fique claro que intenciona-se preservar a livre
expressão e que, de forma alguma se está partindo do princípio que
há assuntos específicos para determinadas pessoas. Afinal, o senhor
é um jornalista esportivo, mas aventura-se em todos os temas da
contemporaneidade. Pode ser compreensível a sua ingênua, porém
danosa e irresponsável, tentativa de tecer um comentário jocoso
acerca da assistência ao parto. Tema esse que o senhor claramente
não domina. Não é aceitável, entretanto, que um jornalista,
formador de opinião, posicione-se publicamente sobre uma questão
tão séria sem, no mínimo, "tomar pé" da situação. Em
seu comentário, coloca doula e parteira como uma mesma função.
Afirmação incorreta e que promove ainda mais desinformação,
confunde mulheres e famílias que, à duras penas, lutam por uma
assistência humanizada e respeitosa.
A parteira é uma
mulher que dentro de uma cultura tradicional assiste partos de
maneira leiga, ou seja, sem respaldo de conhecimento científico. Em
geral, acompanha mulheres que não tem acesso ao hospital ou equipe
técnica domiciliar. Em sua versão mais urbana, denomina-se parteira
também as obstetrizes, enfermeiras obstetras e médicas que
igualmente assistem partos. A doula, por sua vez é uma ACOMPANHANTE
DE PARTO TREINADA, e sua função foi reconhecida no Brasil e consta
no Catálogo Brasileiro de Ocupações desde 2014. A ela compete
apoiar a mulher durante o trabalho de parto, promovendo alívio não
medicamentoso do desconforto causado pelas contrações, promovendo
um ambiente acolhedor, suporte emocional, ou seja, a ela não compete
qualquer responsabilidade técnica na assistência a parto. Está
longe do conceito de “parteira tucanizada” , sequer são as
mesmas personagens na cena de nascimento.
A Humanização do
Parto é uma luta de muitas décadas e sob ela habitam muitas
histórias de violência, cerceamento e sofrimento de mulheres.
Talvez não seja uma esfera das preocupações sócio-políticas que
o absorva e, por isso, acreditamos que, antes de escrever
publicamente seria no mínimo prudente pesquisar sobre o assunto.
Esse é o seu trabalho. Diante da Luta pelos Direitos Sexuais e
Reprodutivos das Mulheres, pela vida de incontáveis famílias
tragicamente afetadas por uma assistência violenta e patriarcal,
consideramos de fundamental importância que haja retratação
pública em relação às doulas, parteiras e todos os demais
envolvidos na luta pela Humanização da Saúde.
Sem mais,
Ishtar – Grupo de
Apoio à Gestação e ao Parto Ativo.